BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM

Bem-aventurados os que choram

BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM
(Mt 5.4)

Em um mundo tão cheio de violências, não é incomum ver pessoas chorando. Há poucos dias, enquanto assistia a um filme acerca da guerra do Iraque, eu vi uma mulher chorando a morte dos familiares. A casa onde as pessoas estavam havia sido atingida por um míssil norte-americano. A cena de uma mulher em prantos me tocou profundamente o coração. Assentado na sala de cinema, meu coração parecia não ter lugar dentro de mim. Aquele momento do filme foi impressionantemente desconfortável. Sei que a maioria das pessoas concorda comigo: é difícil ver alguém chorando.
Talvez, por isso, porque é difícil ver uma pessoa chorando, que muitas pessoas não choram. Elas fazem o caminho inverso. Ao invés de chorarem diante de alguma situação ou adversidade, elas se tornam mais duronas, fechadas e insensíveis. Não gostam de mostrar para os outros que podem ser afetadas por situações tristes ou cenas emotivas. Tentam transmitir uma imagem de coragem, força e determinação. Jamais desejam que outros pensem que são sentimentalistas ou frágeis.
Contudo, Jesus afirma que as pessoas felizes são as pessoas que choram. Ele disse: ?Bem aventurados os que choram, porque serão consolados? (Mateus 5.4). Para Jesus, a fonte da alegria, da saúde, da força e da beleza não está na ausência de lágrimas, e, sim, no choro. Aquele que chora, segundo Jesus, é aquele que encontra a verdadeira alegria. Portanto, porque Deus deseja nos dar a felicidade, devemos chorar.

I ? Devemos chorar por causa dos nossos próprios pecados
Alguns podem entender erradamente a afirmação de Jesus e pensar que o choro por qualquer situação vai trazer alegria. Mas isso não é verdadeiro em relação à afirmação de Jesus. Jesus não está dizendo que a pessoa vai experimentar a alegria por chorar a morte de um ente querido, ou a demissão do emprego, ou o rompimento do namoro. Ainda que todas essas situações tragam lágrimas, elas não têm qualquer relação com a bem-aventurança apresentada por Jesus.
Nessa bem-aventurança, Jesus não está falando de alguma tristeza relacionada à nossa vida natural; antes, ele está falando da tristeza espiritual, da tristeza que a pessoa sente quando ela percebe que o seu coração não é tão bom quanto ela imaginava. Nessa bem-aventurança, são apontados aqueles que choram em seu espírito; aqueles que derramam lágrimas por visualizarem a situação da própria alma. E esses, esclarece o Senhor, são felizes.
Esse tipo de choro, o choro espiritual, sempre era notado nos grandes avivamentos registrados na história. Todos os avivamentos foram marcados pelas lágrimas derramadas pelos cristãos que tinham o seu coração iluminado pela luz do Espírito de Deus. Uma vez que eles percebiam que não eram tão bons, tão virtuosos e tão espirituais; uma vez que eles eram confrontados pela verdade de Deus; uma vez que o Espírito Santo iluminava o quarto mais escondido de seus corações, esses homens e mulheres se derramavam em lágrimas perante o Senhor. E a medida que choravam por causa de seus próprios pecados, o Espírito Santo os consolava e os reavivava, trazendo-lhes a alegria da salvação.
A Irlanda do Norte, essa região que, atualmente, é palco de guerras e terrorismo, experimentou um grande avivamento na metade do século XIX. Harold A. Fischer, no seu livro, ?Avivamentos que Avivam?, registra esse reavivamento com as seguintes palavras: ?Um lavrador, que se havia recentemente tornado seguidor de Cristo, pregava, certo dia de chuva, na rua, e, três mil pessoas de todos os credos e de todas as classes se reuniram para ouvi-lo. Ele, num tom apaixonado, insistia sinceramente com o povo para que se reconciliasse com Deus. O auditório parecia estar totalmente paralisado. No meio de uma chuva fria e das ruas lamacentas, novos convertidos, movidos pelo fervor do pregador, ajoelhavam-se em oração. À medida que o movimento continuava, alguns, esfregando as mãos, derramando lágrimas, e com fisionomia de inconfundível sinceridade, clamavam ao Senhor por misericórdia. O Rev. F. Buick descreveu esse acontecimento assim: ?Vi os fortes convulsionados; testemunhei o tremor de todas as juntas; ouvi clamor como nunca tinha ouvido antes: Senhor Jesus, tem misericórdia da minha alma pecadora! Senhor Jesus, vem para o meu coração incendiado! Senhor, perdoa as minhas iniqüidades! Ó vem e tira-me das chamas do inferno!??.
Acerca do avivamento que aconteceu no País de Gales, Harold Fischer reproduz as seguintes palavras do Rev. Joseph Morgan: ?Um dos aspectos de cada reunião é a sinceridade. Enquanto o ministro prega, não há louvores em voz alta, mas tristeza e choro silencioso, e, surge, de vez em quando, um amém fervoroso na congregação; e quando o culto vai terminar e o pregador anuncia o hino, o cálice se enche e começa a transbordar... Agora é o céu sobre a terra. Nesse momento, há tão grandes influências derramadas quanto a natureza humana pode suportar. Eles permanecem ali, por duas horas ou mais, louvando e glorificando a Deus pela Sua misericórdia, e, afinal, precisam ser levados para fora?.
O choro espiritual, produzido por uma consciência acerca dos próprios pecados, leva a pessoa a experimentar a felicidade do perdão e o avivamento em sua vida. Todos os avivamentos começaram quando os crentes voltaram os olhos para o seu coração e, com uma postura de humildade de espírito, choraram por causa dos próprios pecados. Muitos que olharam para o seu interior se descobriram orgulhosos, críticos dos outros, acomodados em relação a Deus, amigos dos prazeres do mundo, irritadiços, sem domínio próprio, cobiçosos, dominados pela inveja, amargurados no coração e insensíveis às necessidades do próximo.
A descoberta acerca do próprio pecado leva os crentes a chorarem diante de Deus, suplicando pelo perdão e pela mudança do coração. E uma vez que o crente se torna humilde de espírito e chora diante de Deus, o Espírito Santo lhe traz consolo, alegria e avivamento. Devemos aprender a olhar para dentro dos nossos corações e a chorar por causa dos nossos pecados.


II ? Devemos chorar por causa dos pecados dos outros
Entretanto, devemos chorar não apenas por causa dos nossos pecados, mas também devemos chorar por causa dos pecados dos outros. Essa foi a atitude de Jesus. Em diversas ocasiões, Jesus foi comovido em seu espírito e foi levado a chorar pelos pecados de outras pessoas.
Quando, por exemplo, ele se encaminhou para ressuscitar o seu amigo Lázaro, a Bíblia diz que Jesus chorou (João 11.35). Jesus não chorou porque o seu amigo havia morrido, porquanto Ele estava a ponto de ressuscitá-lo dos mortos. Jesus bem sabia que, no instante seguinte, Lázaro haveria de retornar à vida. Mas o choro de Jesus aconteceu porque Ele contemplou aquela coisa horrenda, feia e imunda denominada pecado, que invadiu nossas vidas e introduziu na vida a própria morte, perturbando e infelicitando a vida. Jesus chorou diante disso e gemeu em Seu espírito.
Em outra ocasião, quando estava defronte de Jerusalém, Jesus chorou (Lucas 19.41-44). Ele chorou porque Jerusalém havia se tornado passível de condenação por tê-lo repelido. Ele chorou por causa dos pecados que haviam sido cometidos por Jerusalém. Ele chorou por saber que os pecados dos habitantes de Jerusalém trariam a destruição da cidade.
Jesus chorou por causa dos pecados dos outros. E nós também, como discípulos de Jesus, devemos chorar pelos pecados dos outros. Quando lemos os jornais ou assistimos à televisão, e somos informados sobre tanta violência, massacres, terrorismo, miséria, fome, desigualdade social, morte, exploração sexual, corrupção, fraudes, pecados na sociedade e no mundo, devemos ser levados a chorar. Não podemos simplesmente considerar todas essas coisas comuns. Elas não refletem o propósito de Deus para a humanidade; antes, todas essas coisas refletem a presença do pecado no mundo. E a medida que o pecado cresce, cresce também o peso de condenação que haverá de vir sobre os seres humanos.
Por isso, devemos chorar pelos pecados dos outros. Devemos clamar a Deus por misericórdia e suplicar pelo perdão dos pecados cometidos pelo nosso povo. Não podemos ser insensíveis ou ficar alheios ao que está acontecendo ao nosso redor. O mundo só será transformado e as pessoas só experimentarão verdadeira alegria quando os crentes se tornarem humildes de espírito e começarem a chorar pelos próprios pecados e pelos pecados dos outros.

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